O meu pai ofereceu-me este livro ontem ao fim da tarde. Sentei-me à beira do fogão de lenha enquanto esperávamos pelo jantar e comecei a ler. Deixei-me agarrar pelo início cru, por uma escrita madura e uma autora que parecia não ter compaixão pelas suas personagens.
Não descansei enquanto não terminei de ler a história de Nico, Antônio e Júlia inundada pelo realismo mágico que na América Latina é rei e senhor, que quase sempre nos confunde e inebria.
Andréa del Fuego convenceu-me com as suas frases pensadas ao pormenor («Uma esfera perfeita nasceu na raiz dos olhos, a película estourou no meio do rosto»), com as suas aliterações convenientes e propositadas, com as suas metáforas irreais tão vindas da terra e dos sonhos.
Os Malaquias é um livro sobre desencontros tantas vezes forçados outras tantas permitidos. Um livro que mergulha e flutua na repetição incessante e deliberada da palavra «água» e que nela acaba por desaguar concluindo, enfim, «Em água turva, as substâncias não se veem».
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