Livros
Quando entro noutras casas e sou apresentado a prateleiras rigorosamente organizadas por ordem alfabética, pergunto-me se estes guardarão rancor pelo caos a que os obrigo.
Em ocasiões que lhes parecem aleatórias, escolho dois ou três e levo-os a dar uma volta ao mundo. Habituados à luz desta casa, acredito que essa montanha-russa lhes arregale os olhos.
Regressam estrangeirados, com a companhia de outros livros, novos, a falarem com sotaque. Se tiverem sorte, trazem as capas mais ou menos dobradas. Só por grande casualidade ocuparão o lugar que tinham antes.
Imagino aquilo que contam aos outros, aos que não saíram daqui. Quase de certeza que o seu relato lhes aumenta a ansiedade. Cada vez que me aproximo, haverá alguns a quererem aventura, a desejarem que o meu braço se estenda na sua direção e, provavelmente, haverá outros agarrados ao que conhecem, com medo de amplitudes térmicas desconhecidas.
Eu olho por eles, eles olham por mim. O tempo continua. Sei que têm memória e, quando não estiver cá, espero que não esqueçam o quanto dependi deles. Pertenço-lhes mais do que eles me pertencem a mim.
Quando entro noutras casas e sou apresentado a prateleiras rigorosamente organizadas por ordem alfabética, pergunto-me se estes guardarão rancor pelo caos a que os obrigo.
Em ocasiões que lhes parecem aleatórias, escolho dois ou três e levo-os a dar uma volta ao mundo. Habituados à luz desta casa, acredito que essa montanha-russa lhes arregale os olhos.
Regressam estrangeirados, com a companhia de outros livros, novos, a falarem com sotaque. Se tiverem sorte, trazem as capas mais ou menos dobradas. Só por grande casualidade ocuparão o lugar que tinham antes.
Imagino aquilo que contam aos outros, aos que não saíram daqui. Quase de certeza que o seu relato lhes aumenta a ansiedade. Cada vez que me aproximo, haverá alguns a quererem aventura, a desejarem que o meu braço se estenda na sua direção e, provavelmente, haverá outros agarrados ao que conhecem, com medo de amplitudes térmicas desconhecidas.
Eu olho por eles, eles olham por mim. O tempo continua. Sei que têm memória e, quando não estiver cá, espero que não esqueçam o quanto dependi deles. Pertenço-lhes mais do que eles me pertencem a mim.
José Luís Peixoto, em Jornal de letras, artes e ideias (1 a 14 de maio de 2013)
lindo! O José tem um jeito muito bonito de usar as palavras...
ResponderEliminarOi Gi, bem-vinda! :)
EliminarEu sinto-me como se ele tivesse roubado as minhas e as tivesse organizado de uma forma muito mais bonita :)
<3
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