terça-feira, 5 de março de 2013

David Lodge - A Consciência e o Romance


Maravilhoso. Um livro sobre livros e escritores, sobre críticos e leitores. Um autêntico laboratório de autópsias, adornado pelo humor lodgiano (alguém já inventou esta palavra? Não? Posso ficar com os créditos?), onde se desventram romances e ficcionistas.
Uma obra de não ficção de um grande autor que é igualmente um grande académico mas que faz questão de escapar à pretensão e à arrogância de esfregar o seu conhecimento na cara dos outros. Num mundo cheio de sobranceria intelectual não deixa de ser reconfortante a forma modesta como Lodge admite alguns dos seus erros.
A Consciência e o Romance ensina, muito!, explica ao comum leitor vários pormenores da arte de idealizar ficção e da tortuosa tarefa de passá-la para o papel. Escancara a porta dos bastidores e, inevitavelmente, faz com que não consigamos olhar para um romance da mesma forma depois de ler este brilhante conjunto de ensaios. Como se isto não fosse já suficiente, Lodge apresenta-nos de forma ligeira a sua visão de outros autores consagrados como Henry James, Charles Dickens, James Joyce, Virginia Woolf, Kingsley e Martin Amis, Philip Roth, etc. etc.
David Lodge é fascinante (o capítulo final bastaria para prová-lo) e eu recolho-me à minha insignificância abstendo-me de tentar arranjar formas para exprimir o quão incrível é este livro. Recomenda-se a quem se interessa por crítica literária e desaconselha-se, veementemente, a quem quer continuar a ter o prazer de ler um romance através do filtro transparente do inocente leitor.
 
 
Citações:
 
«A simples decisão de continuar a ler um romance ou um poema até ao fim é, em si mesma, uma espécie de acto crítico. Neste sentido lato, a crítica é, como T. S. Eliot afirmou, «tão inevitável como respirar».»

«Em 1996 fui convidado para fazer uma palestra num congresso internacional de especialistas em Kierkegaard realizado em Copenhaga e cujo tema era «Kierkegaard e o Significado de Significar». O que se segue é uma versão reduzida do que eu disse nessa ocasião. Nunca cheguei a descobrir o significado do título do colóquio.»
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